quarta-feira, 11 de abril de 2007

8ª Parte - "Chupa, escorre, cospe..."




"(...)A festa estava do jeito que a Andréia esperava, e ela não economizou ao distribuir largos e satisfeitos sorrisos durante toda a noite. Já eu, preferi me esconder em uma mesa, estrategicamente escolhida, num dos cantos daquele aconchegante bistrô, a própria anfitriã só foi me encontrar lá pelas tantas da madrugada. Não estava me sentindo bem, uma angústia cismava em me atormentar, em compensação, o Diogo parecia satisfeitíssimo, entre aspas. Resolvi beber mais um pouco, sempre curei minhas aflições com ao álcool. A carta de bebida era vasta, mas preferi continuar na vodka.

- O que você tem? – Algumas pulgas atrás das duas orelhas, serve?
- Eu?! Nada... Um pouco impaciente. – E estava mesmo.
- Bebe, vai te fazer bem. – Alguma outra sugestão?
- É o que vou fazer. – Estava lendo aquela bíblia alcoólica desde que havíamos chegado.
- O que você vai pedir? Esse lugar é maravilhoso, estou encantado. – Estava mesmo.
- O de sempre. Garçom? – Chamo o garçom. –
“Por favor, uma dose de vodka Absolut, dupla e com bastante gelo”.
- “Eu quero o mesmo, com pouco gelo”.
– Pede. – Alguma coisa para comer, querida? – Agora eu sou a mulherzinha?
- Nada, estou enjoada. Deve ser a gravidez... – Digo olhando sem-graça para o garçom. Este me olha com indignação, como se eu fosse a mais vil das criaturas por beber vodka durante a gestação.
- Por que você falou isso? É louca? – Fala assim que ficamos a sós.
- Eu queria me divertir, só isso... Relaxa, amorzinho, a noite está só começando. – Escorrego minha mão até o seu pau.
- Para! Alguém pode olhar... – Mexe o corpo convulsivamente, quase derrubando a mesa.
- Calma, gato. – Levanto as mãos.
- Você melhorou tão de repente... – Dúvida.
- Nunca estive doente! – Resposta.
- Mas é que você estava estranha, agoniada... – Tenta achar uma explicação.
- Sou bipolar, querido, já devia ter se acostumado. – Acendo um cigarro e relaxo minhas costas na cadeira.
- Não consigo, você muda a cada dia, hoje durmo com uma Malu, amanhã acordo com não sei o que. É muito confuso para minha cabeça... – Também acende um cigarro.
- Procura um psicanalista, conheço uma excelente. – Solto uma baforada em sua cara.
- Quem precisa de um é você. – Revida o meu gesto mal-educado da mesma forma.
- Eu já tenho uma... A gente até trepa de vez em quando, faz parte da terapia. – Pego a minha bebida e agradeço ao garçom pudico com um beijinho.
- Mentira? – Fica tão bestificado que nem percebe o copo a sua frente.
- Juro! – Cruzando e beijando os dedos indicadores. - Aliás, você devia marcar uma consulta com ela. Dra Sheila me chupa melhor do que você. – Ele começa a rir, está envergonhado.
- Puta que pariu, você é muito escrota. – Agora, percebe que o seu drink chegou e bebe um gole.
- Imagina... Eu sou, digamos que, flexível... – Começo a cantarolar uma música de Nancy Sinatra que está tocando.
- Você é a mulher da minha vida. – Rouba um beijo.
- Eu sei, eu sou a mulher que você gostaria de ter casado, mas não conseguiria por causa do seu superego “Sandy”. Todo homem tem um... – Digo, enquanto escapo do seu beijo.
- Como é? – Idiota. Tudo eu tenho que explicar...
- Todo homem, heterossexual, deseja uma mulher livre, sem pudor, sem frescuras, disponível, divertida, linda, voluptuosa e bem-resolvida, certo?! – Estou me insinuando.
- Certo! – A baba escorre.
- Mas, nenhum homem tem coragem de casar com uma mulher assim, geralmente elas assustam, sabe?! Porque são todos uns frouxas... – Finjo estar entediada.
-Epa! – Tenta retrucar.
- Calma... Deixa eu terminar, ansioso! É o seguinte... A sociedade, a cultura, a igreja, ou o caralho a quatro impõe ao homem que a mulher para casar tem que ser companheira, certinha, recatada, carente, submissa, comprometida com a relação, enfim... A mãe para criar seus filhos. - Estou com a boca seca.
- Certo... Tem fundamento, pode continuar. – Está me dando permissão?
- Só que, no fundo, vocês não são realizados com suas mulherzinhas pés-nas-pantufas e acabam liberando seus instintos reprimidos em relações extra-conjugais. Daí, nós, as pobres amantes, acostumadas com liberdade e prazer, sofremos com uma cambada de homens carentes e frustrados que se dizem completamente apaixonados por nossas bocetas. Sendo que somos o oposto do que o superego “boa-moça” julga ser o correto para o matrimônio sagrado. – Devia ter feito psicologia, sou boa nisso.
- Você acaba de se auto-intitular uma puta. – Ainda tenta recuperar o fôlego.
- Não, eu "estou" uma amante, mas não por muito tempo. – Olho em volta; “Cadê a porra do garçom”; o lugar estava lotado...
- Certo... E eu sou um homem carente e frustrado?! – Parece magoado.
- Querido, é a única explicação... Você tem uma mulher do jeitinho que todos querem ver ao seu lado, mas se realiza às escuras com uma amante libertina e sem crises de consciência. – Ainda impaciente, nada do garçom.
- Você ainda não respondeu a minha pergunta... – Não deu certo...
- Acho... Você é carente de afeto, de atenção... Seu problema não é sexo! E sua frustração é com o casamento. Por isso, mantêm duas mulherzinhas, cobrando de uma o que a outra não pode oferecer, e vice-versa. – Mudando de assunto. – Consegue ver o garçom?
- Está vindo... – Parece que essa conversa mexeu com ele.
- Não precisa ficar assim, todos nós temos nossas fraquezas. – O garçom finalmente aparece.
- Mas, não é nada agradável sabê-las através da sua amante... – Peço mais uma dose dupla
- Por quê? Amante não pensa, não tem opiniões? Amante se resumiu a uma boceta? – Ele também.
- Foi você quem disse isso. – O garçom sai.
- Eu disse isso? – Em que parte?
- Você disse que nós, homens, carentes e frustrados, nos apaixonávamos pelas bocetas das amantes. – Olhando em meus olhos.
- Bem... Às vezes eu me expresso de uma forma meio vulgar, admito, mas deu pra enteder, não?! – Tendo desviar o olhar.
- E como deu... – O garçom retorna com as bebidas.
- Vamos mudar de assunto, esse já me cansou. – Por favor, antes que ele corte os pulsos.
- Você está linda, minha boceta preferida... – Diz, abrindo um sorriso.
- Você também, meu machinho carente. – Nos beijamos. (...)"

Nenhum comentário: