
"(...)- Onde fica a casa da sua amiga? – Pergunta, diminuindo a velocidade do carro.
- Pega essa rua, é ao lado de uma galeria. – Indico o caminho como se estivesse em um táxi.
- Dessa? – Está calmo.
- Não... Mais na frente. – Estou calma.
- Você conhece bem esse lugar, não é? – Tenta amenizar a situação
- Sempre venho aqui, vira a direita. – Não quero papo.
- Passo a que horas para te pegar? – Diz, fingindo que nada aconteceu.
- É aqui. – Finjo que não escutei.
- Nossa, bela casa. – Realmente, é uma casa linda.
- Abre a mala, por favor. – Desço do carro.
- Ok... A que horas mesmo eu te pego? – Se estica de um lado ao outro do carro para tentar acompanhar meus movimentos enquanto descarrego minha bagagem.
- Eu te ligo. – Nem se quer olhei para ele.
Virei as costas e atravessei o jardim que adorna a entrada da casa. Mal toquei a campainha e fui logo recebida por Andréia, minha amiga de infância. Deixei a mala no quarto de hóspedes, desci e sentei em um banco na cozinha, onde minha anfitriã preparava o jantar.
- Você não está com uma cara boa. – Ela me conhece muito bem.
- É cansaço... – Minto descaradamente.
- E eu? Inauguro meu bistrô amanhã, estou muito ansiosa. – Fala enquanto “esquarteja” um brócolis.
- E aí, como estão os preparativos? – Tento mudar de assunto.
- Está tudo tão lindo, que bom que você veio. – Me olha carinhosamente.
- Você acha que eu perderia uma ocasião dessas? – Estou doida por um cigarro.
- Sei lá... Você é meio louca. – Na mosca!
- Tem um cigarro? – Preciso!!!
- Parei de fumar. Só tenho maconha, serve? – Virou hippie?
- Ai, serve sim, e como serve. – Detesto maconha, mas estava necessitada de algum paliativo para o meu desgosto.
- Percebi... – Ela realmente me conhece.
Fumamos a erva enquanto ela terminava o jantar, falei sobre o meu caso, por alto, mudando algumas situações. Como eu, uma mulher tão independente, bem-resolvida e moderna, fui me envolver em uma relação machista, onde eu era a sinhazinha submissa? Tinha vergonha de admitir minha condição a qualquer um, principalmente aos mais íntimos, tinha vergonha até de mim mesma. Mas, o que me mantinha presa àquele homem? Por que eu simplesmente não lhe dava um belo pé na bunda? São coisas, meu bem, que nem Freud conseguiria explicar.
- Você deve estar muito carente. – Sugere assim que relato parte do meu "caso".
- Quem dera, carência eu resolvo com qualquer homem, mulher, protozoário... – É verdade.
- (risos)
- Então, se você já disse não amar esse cara, não estar satisfeita com o relacionamento, por que não cai fora? – Eis a questão...
- Sei lá... Acho que estou travando uma batalha com meus preconceitos, sabe?! – Estou ficando doidona.
- Não, não entendo. – Impressionante como a Andréia nunca fica alterada, nem com bebida, maconha, nada!
- Deixa pra lá. Já percebeu que o seu pé incha quando você fuma maconha? – Estou muito doidona.
- Os meus, não. Tenho pés lindos. – Fala enquanto admira seus pés.
- Aiii... Queria tanto casar com o Billy Elliot. – Estou deitada no chão da cozinha.
- É... Ele ficou um gato quando cresceu, no final do filme. – É por isso que adoro a Andréia. Apesar de nunca ficar louca, sempre participa da alucinação alheia.
- Não... Falo dele enquanto criança, ele era tão lindo, tão viril. – Saio rolando pelo chão.
- Sua pervertida... – Solta uma risada estrondosa.
- (risos)
- (risos)
- (risos)
- Mademoiselle, o jantar está servido. – E que jantar...
- Hum... Estou com tanta fome, não sei por quê... – Larica.
Depois de mais uma crise de risos provocada pela cannabis, nos esbaldamos com um jantar delicioso: Salmão ao molho de mostarda, arroz com brócolis e, para acompanhar, um bom vinho branco. Conversamos amenidades e rimos muito, a Andréia é uma mulher espirituosa. Estava muito relaxada, a maconha, a bebida e a companhia me fizeram esquecer daquela viagem exaustiva.
Assim que terminamos o jantar e lavamos os pratos, fomos até a sala e nos servimos com doses de whisky. Andréia escolheu um cd de Bossa Nova, Bebel Gilberto ou coisa assim, não estava prestando atenção, estava aérea. Ela me contou sobre sua vida, há muito tempo não nos encontrávamos, resolveu abrir um bistrô assim que se divorciou do seu marido, uma bicha. Eu sempre suspeitei daquele médico arrogante, exalando austeridade pelos poros, só podia ser gay. Pena que minha amiga adorava seu casamento, seu companheiro, sua rotina. Depois que o ex-marido resolveu assumir sua sexualidade, e seu namorado de três anos, ela quase pirou. Passou a cozinhar compulsivamente, congelava tudo e armazenava no freezer. Foi quando sua mãe teve a idéia da salvação: “Você tem dinheiro, sabe cozinhar, por que não abre um restaurante? Vai te fazer bem ocupar a cabeça cozinhando, você ama isso”; e cá estou eu, esperando pela inauguração do bistrô da minha melhor amiga.(...)"
- Pega essa rua, é ao lado de uma galeria. – Indico o caminho como se estivesse em um táxi.
- Dessa? – Está calmo.
- Não... Mais na frente. – Estou calma.
- Você conhece bem esse lugar, não é? – Tenta amenizar a situação
- Sempre venho aqui, vira a direita. – Não quero papo.
- Passo a que horas para te pegar? – Diz, fingindo que nada aconteceu.
- É aqui. – Finjo que não escutei.
- Nossa, bela casa. – Realmente, é uma casa linda.
- Abre a mala, por favor. – Desço do carro.
- Ok... A que horas mesmo eu te pego? – Se estica de um lado ao outro do carro para tentar acompanhar meus movimentos enquanto descarrego minha bagagem.
- Eu te ligo. – Nem se quer olhei para ele.
Virei as costas e atravessei o jardim que adorna a entrada da casa. Mal toquei a campainha e fui logo recebida por Andréia, minha amiga de infância. Deixei a mala no quarto de hóspedes, desci e sentei em um banco na cozinha, onde minha anfitriã preparava o jantar.
- Você não está com uma cara boa. – Ela me conhece muito bem.
- É cansaço... – Minto descaradamente.
- E eu? Inauguro meu bistrô amanhã, estou muito ansiosa. – Fala enquanto “esquarteja” um brócolis.
- E aí, como estão os preparativos? – Tento mudar de assunto.
- Está tudo tão lindo, que bom que você veio. – Me olha carinhosamente.
- Você acha que eu perderia uma ocasião dessas? – Estou doida por um cigarro.
- Sei lá... Você é meio louca. – Na mosca!
- Tem um cigarro? – Preciso!!!
- Parei de fumar. Só tenho maconha, serve? – Virou hippie?
- Ai, serve sim, e como serve. – Detesto maconha, mas estava necessitada de algum paliativo para o meu desgosto.
- Percebi... – Ela realmente me conhece.
Fumamos a erva enquanto ela terminava o jantar, falei sobre o meu caso, por alto, mudando algumas situações. Como eu, uma mulher tão independente, bem-resolvida e moderna, fui me envolver em uma relação machista, onde eu era a sinhazinha submissa? Tinha vergonha de admitir minha condição a qualquer um, principalmente aos mais íntimos, tinha vergonha até de mim mesma. Mas, o que me mantinha presa àquele homem? Por que eu simplesmente não lhe dava um belo pé na bunda? São coisas, meu bem, que nem Freud conseguiria explicar.
- Você deve estar muito carente. – Sugere assim que relato parte do meu "caso".
- Quem dera, carência eu resolvo com qualquer homem, mulher, protozoário... – É verdade.
- (risos)
- Então, se você já disse não amar esse cara, não estar satisfeita com o relacionamento, por que não cai fora? – Eis a questão...
- Sei lá... Acho que estou travando uma batalha com meus preconceitos, sabe?! – Estou ficando doidona.
- Não, não entendo. – Impressionante como a Andréia nunca fica alterada, nem com bebida, maconha, nada!
- Deixa pra lá. Já percebeu que o seu pé incha quando você fuma maconha? – Estou muito doidona.
- Os meus, não. Tenho pés lindos. – Fala enquanto admira seus pés.
- Aiii... Queria tanto casar com o Billy Elliot. – Estou deitada no chão da cozinha.
- É... Ele ficou um gato quando cresceu, no final do filme. – É por isso que adoro a Andréia. Apesar de nunca ficar louca, sempre participa da alucinação alheia.
- Não... Falo dele enquanto criança, ele era tão lindo, tão viril. – Saio rolando pelo chão.
- Sua pervertida... – Solta uma risada estrondosa.
- (risos)
- (risos)
- (risos)
- Mademoiselle, o jantar está servido. – E que jantar...
- Hum... Estou com tanta fome, não sei por quê... – Larica.
Depois de mais uma crise de risos provocada pela cannabis, nos esbaldamos com um jantar delicioso: Salmão ao molho de mostarda, arroz com brócolis e, para acompanhar, um bom vinho branco. Conversamos amenidades e rimos muito, a Andréia é uma mulher espirituosa. Estava muito relaxada, a maconha, a bebida e a companhia me fizeram esquecer daquela viagem exaustiva.
Assim que terminamos o jantar e lavamos os pratos, fomos até a sala e nos servimos com doses de whisky. Andréia escolheu um cd de Bossa Nova, Bebel Gilberto ou coisa assim, não estava prestando atenção, estava aérea. Ela me contou sobre sua vida, há muito tempo não nos encontrávamos, resolveu abrir um bistrô assim que se divorciou do seu marido, uma bicha. Eu sempre suspeitei daquele médico arrogante, exalando austeridade pelos poros, só podia ser gay. Pena que minha amiga adorava seu casamento, seu companheiro, sua rotina. Depois que o ex-marido resolveu assumir sua sexualidade, e seu namorado de três anos, ela quase pirou. Passou a cozinhar compulsivamente, congelava tudo e armazenava no freezer. Foi quando sua mãe teve a idéia da salvação: “Você tem dinheiro, sabe cozinhar, por que não abre um restaurante? Vai te fazer bem ocupar a cabeça cozinhando, você ama isso”; e cá estou eu, esperando pela inauguração do bistrô da minha melhor amiga.(...)"
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