
"(...)A viagem foi um inferno, Diogo bebia vodka no gargalo e reclamava de tudo. Surtava a cada possibilidade de encontrar o tal primo da esposa e cogitava mil possibilidades para explicar minha presença em seu carro: “Você é minha secretária e está indo para me auxiliar”; “Não, você é uma amiga que estou dando carona”; “Ai meu Deus, o que eu vou dizer?”; foi então que eu tive a brilhante idéia: “Diz que eu sou a puta que você anda comendo, homem é solidário nessas horas!”. Minha resposta malcriada foi o estopim para mais uma briga. Eu não agüentava mais, estava disposta a terminar tudo assim que chegássemos ao Guarujá. Puta, talvez, estresse, comigo não! Mas, enquanto a vodka aliviava sua agonia, nosso romance emergia daquele mar de ansiedade.
- Vai ser bem divertida nossa viagem... – Tenta hastear uma bandeira branca.
- Eu espero. – Não consigo fingir, não quando estou com raiva.
- Não fica brava comigo, eu estou um pouco nervoso. – Fez uma cara de cachorro na chuva.
- Não tenho nada a ver com isso. – Mantenho minha postura.
- Eu sei, mas entenda, por favor. – Fala, quase implorando...
- Sou bastante compreensível... – Digo com um sorrisinho contido.
- Eu sei, por isso que eu te adoro. – Agarra minha mão.
- Também... – Deito minha cabeça em seu ombro.
Era uma quinta-feira escaldante de verão, por isso, boa parte dos paulistanos congestionavam a Anchieta/Imigrantes rumo ao litoral, e o clima de romance foi imediatamente substituído por uma tensão quase palpável. Assim que descemos a serra e entramos na rodovia Piaçaguera, quase chegando ao Guarujá, o celular do Diogo irrompeu aquele silêncio fúnebre, era o tal primo boa-praça... Não pude evitar, tentava adivinhar o diálogo pelo que conseguia ouvir. Ele se desculpava pelo "bolo", o primo dizia estar na estrada, ele gaguejava ao dizer que chegara ao hotel, o primo perguntava onde estava hospedado, ele mudava de assunto, o primo insistia, ele não sabia mais o que inventar... Foi uma conversa confusa, o coitado estava prestes a ter uma sincope nervosa.
- Você simplesmente fugiu? – Pergunto.
- Claro! Marquei com ele em um posto de gasolina e simplesmente não apareci. – Volta a franzir o cenho.
- E por que você simplesmente não disse que não podia esperar por ele? – Tento acalmá-lo.
- Porque ele insistia muito e minha esposa estava do lado, ia soar muito estranho. – Fica mais irritado ainda.
- Era só dizer a ela que você não gosta do cara. – Deu para ver a fumaça saindo das suas orelhas.
- Você não conhece minha esposa, ela me fuzilaria com perguntas e eu não saberia o que responder. – Fala gritando, quase explodindo de tão nervoso.
- Inventava alguma coisa qualquer. – Tento manter a calma.
- Não sei mentir! – Fala quase chorando
- (gargalhadas)
- Ótimo, agora você está rindo... Você é muito egoísta, tudo isso é culpa sua. – Quase perde o controle do carro ao soltar o volante para gesticular.
- Você me deve desculpas. – Estou muito irritada.
- (risos)
- Eu não sou obrigada a passar por isso, quem está enganando alguém aqui é você, não eu. – Agora é a minha vez de alterar o tom da voz.
- (silêncio)
- Estou possessa, uma maníaca prestes a pular deste carro em movimento. Parece que estou fugindo da polícia, sendo que estou viajando a lazer... Está tudo errado, tudo! – Estou quase chorando.
- O que está errado? O que você quis dizer com isso? – Pergunta preocupado.
- Eu estou errada, você está errado, essa viagem é um erro e nós somos uma farsa. – Desabafo.
- Nunca te enganei... – Agora está mais contido.
- Nunca? Você me enganou no momento mais frágil de uma relação, enquanto nos conhecíamos... Me deixei envolver por um Diogo solteiro, quando descobri que você era casado, tarde demais. – Estou chorando...
- Agora a culpa é minha. – Fala baixinho, como se estivesse pensando alto.
- Minha é que não é... – Continuo chorando.
- Então, o que você quer fazer? – Sua voz quase não sai.
- Sugira... – A minha também.
- Te deixo na casa de sua amiga e faço a social com o primo da minha esposa, depois nos encontramos e vamos para o hotel. – Fala rapidamente.
- Nossa... Como você é perspicaz. – Estou surpresa!
- É a única saída... – Diz confiante.
- (silêncio)
Nunca me senti tão humilhada, tão por baixo... Tive vontade de chorar, mas não o fiz. Ele já estava mais tranqüilo, havia tido uma idéia "brilhante" e todos nós sairíamos ilesos daquela história toda. Para mim, pouco importava, queria chegar logo e encontrar minha querida amiga. Ao contrário dos planos dele, não iríamos para o hotel e nem se quer ficaríamos juntos, eu sumiria para avaliar friamente minha situação. Não fiz nada disso! Seria ótimo se eu conseguisse ser fiel ao meu bom-senso. (...)"
- Vai ser bem divertida nossa viagem... – Tenta hastear uma bandeira branca.
- Eu espero. – Não consigo fingir, não quando estou com raiva.
- Não fica brava comigo, eu estou um pouco nervoso. – Fez uma cara de cachorro na chuva.
- Não tenho nada a ver com isso. – Mantenho minha postura.
- Eu sei, mas entenda, por favor. – Fala, quase implorando...
- Sou bastante compreensível... – Digo com um sorrisinho contido.
- Eu sei, por isso que eu te adoro. – Agarra minha mão.
- Também... – Deito minha cabeça em seu ombro.
Era uma quinta-feira escaldante de verão, por isso, boa parte dos paulistanos congestionavam a Anchieta/Imigrantes rumo ao litoral, e o clima de romance foi imediatamente substituído por uma tensão quase palpável. Assim que descemos a serra e entramos na rodovia Piaçaguera, quase chegando ao Guarujá, o celular do Diogo irrompeu aquele silêncio fúnebre, era o tal primo boa-praça... Não pude evitar, tentava adivinhar o diálogo pelo que conseguia ouvir. Ele se desculpava pelo "bolo", o primo dizia estar na estrada, ele gaguejava ao dizer que chegara ao hotel, o primo perguntava onde estava hospedado, ele mudava de assunto, o primo insistia, ele não sabia mais o que inventar... Foi uma conversa confusa, o coitado estava prestes a ter uma sincope nervosa.
- Você simplesmente fugiu? – Pergunto.
- Claro! Marquei com ele em um posto de gasolina e simplesmente não apareci. – Volta a franzir o cenho.
- E por que você simplesmente não disse que não podia esperar por ele? – Tento acalmá-lo.
- Porque ele insistia muito e minha esposa estava do lado, ia soar muito estranho. – Fica mais irritado ainda.
- Era só dizer a ela que você não gosta do cara. – Deu para ver a fumaça saindo das suas orelhas.
- Você não conhece minha esposa, ela me fuzilaria com perguntas e eu não saberia o que responder. – Fala gritando, quase explodindo de tão nervoso.
- Inventava alguma coisa qualquer. – Tento manter a calma.
- Não sei mentir! – Fala quase chorando
- (gargalhadas)
- Ótimo, agora você está rindo... Você é muito egoísta, tudo isso é culpa sua. – Quase perde o controle do carro ao soltar o volante para gesticular.
- Você me deve desculpas. – Estou muito irritada.
- (risos)
- Eu não sou obrigada a passar por isso, quem está enganando alguém aqui é você, não eu. – Agora é a minha vez de alterar o tom da voz.
- (silêncio)
- Estou possessa, uma maníaca prestes a pular deste carro em movimento. Parece que estou fugindo da polícia, sendo que estou viajando a lazer... Está tudo errado, tudo! – Estou quase chorando.
- O que está errado? O que você quis dizer com isso? – Pergunta preocupado.
- Eu estou errada, você está errado, essa viagem é um erro e nós somos uma farsa. – Desabafo.
- Nunca te enganei... – Agora está mais contido.
- Nunca? Você me enganou no momento mais frágil de uma relação, enquanto nos conhecíamos... Me deixei envolver por um Diogo solteiro, quando descobri que você era casado, tarde demais. – Estou chorando...
- Agora a culpa é minha. – Fala baixinho, como se estivesse pensando alto.
- Minha é que não é... – Continuo chorando.
- Então, o que você quer fazer? – Sua voz quase não sai.
- Sugira... – A minha também.
- Te deixo na casa de sua amiga e faço a social com o primo da minha esposa, depois nos encontramos e vamos para o hotel. – Fala rapidamente.
- Nossa... Como você é perspicaz. – Estou surpresa!
- É a única saída... – Diz confiante.
- (silêncio)
Nunca me senti tão humilhada, tão por baixo... Tive vontade de chorar, mas não o fiz. Ele já estava mais tranqüilo, havia tido uma idéia "brilhante" e todos nós sairíamos ilesos daquela história toda. Para mim, pouco importava, queria chegar logo e encontrar minha querida amiga. Ao contrário dos planos dele, não iríamos para o hotel e nem se quer ficaríamos juntos, eu sumiria para avaliar friamente minha situação. Não fiz nada disso! Seria ótimo se eu conseguisse ser fiel ao meu bom-senso. (...)"
Essere continuato...
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