quinta-feira, 5 de abril de 2007

5ª Parte - Não é por aí!


"(...)Por causa da maconha misturada a uma considerável quantidade de vinho e whisky, nem percebi o tempo passar, já era quase uma hora da manhã quando Andréia informou que estava indo dormir: “A casa é sua!”; ela disse. Mes esparramei no sofá, completamente alucinada e distraída, nem havia percebido que a Bossa Nova já não tocava mais no CD Player, agora, a voz que ecoava por aquela sala lúgubre era a de Nina Simone. Estava tão cansada, talvez tivesse sido melhor seguir os passos da minha sábia amiga, mas não... Ao invés disso, liguei o celular e esperei “alguém” me telefonar, sou bastante orgulhosa para arrear as calças.

Comecei a ficar tonta, a sala estava muito escura, não conseguia enxergar nada, ou quase nada. Então, paralelo ao enjôo, surgiu uma vontade incontrolável de me produzir, como se “alguém” me esperasse naquela noite. Fui até o quarto onde estava instalada, peguei minha nécessaire e andei trôpega até o banheiro. Me olhei no espelho, uma sensação nada agradável, estava péssima, com olheiras e fios nervosos, meus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo. Demorei mais algum tempo admirando minhas imperfeições e logo em seguida tirei a roupa. A ducha estava deliciosa, morna, no ponto, tanto que demorei mais ou menos umas duas horas para terminar meu banho. Comecei a pensar no que vestir, para o quê estava me produzindo mesmo? Não importava, queria ficar linda. Escolhi um vestidinho preto bem leve e solto, simples e elegante, ótima opção. Calcei um par de sandálias pretas no estilo Anabela . Pus minhas inseparáveis pulseiras, todas em ouro branco: uma no formato rabo de rato com um pingente de coração vazado, outra um pouco mais grossa cravejada de minúsculos diamantes e uma terceira com um pingente de pérola. Estava pronta! Quase não usava maquiagem, apenas um gloss e um pouco de blush terra-cota; os cabelos continuaram presos, desta vez em um rabo de cavalo mais apresentável.

Ainda tonta, voltei até a sala e me servi com mais uma dose de whisky, bebi um gole e sai para comprar cigarros, estava louca por uns. Na galeria ao lado da casa onde estava hospedada tem uma chopperia, dessas da moda, sabe?! Ainda estava chapada, por isso, fui exultante até o balcão daquele lugar insuportavelmente cheio e barulhento, comprei meu maço de cigarros e sai quase correndo de volta para “casa”. No caminho, acendi um cigarro, satisfeita. Parei um pouco e fiquei apreciando a fumaça que saía da minha boca, estava sedenta. Voltei a caminhar, agora mais pausadamente, o zumzumzum já se distanciara. Assim que alcancei a esquina da casa da Andréia meu coração trepidou. O que ele estava fazendo plantado ali?

- Vai sair ou está chegando? – Pergunta, enciumado. Conheço o meu gado...
- Então, fui até uma chopperia aqui perto, um lugar cheio de gente chata. – Não menti, não 100%.
- Sei... Aí resolveu voltar pra casa. – Parece estar zangado.
- Não, esqueci meu celular aqui. – Verdade, juro!
- Sei disso, há horas estou ligando para você. – Ih, esqueci completamente do celular.
- Desculpa, estava distraída conversando com a Andréia. – Falo enquanto jogo o cigarro no chão e o apago com o salto.
- Distraída ou chapada? – Parece estar com raiva...
- As duas coisas. Diz logo o que você quer que eu não vou perder tempo com bobagem, já perdi uma viagem. – Esbravejo, parada à sua frente.
- Pensei que iríamos nos ver hoje à noite, você disse que ia me ligar. – Agora está mais calmo.
- Nem tudo o que eu digo, eu cumpro. – Entrando em casa...
- Poxa... Vamos acabar com esse clima, quero ficar bem com você. Me senti tão mal ao te ver caminhado sozinha, drogada, parecendo uma... – Reflete antes de continuar.
- Parecendo uma o quê? – Berro.
- Entra no carro... – Pede, envergonhado.
- Parecendo o quê? Uma puta? Mas, não é isso o que eu sou?! Pelo menos pra você, não é isso o que eu sou? - Indignada...
- Fala baixo! Entra no carro... – Segura o meu braço.
- ENTRA NO CARRO, UM CARALHO! VAI SE FUDER SUA BICHA ENRUSTIDA, VAI DAR O CU QUE É ISSO O QUE VOCÊ ESTÁ PRECISANDO! – Me puxa abruptamente pelo braço e me joga no banco do passageiro.(...)"

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