
"(...)Continuamos bebendo e conversando abobrinhas, envoltos numa atmosfera assustadoramente romântica. Por mais estranho que possa parecer, nunca havia me sentido tão a vontade na companhia do Diogo, até aquele momento, devo mais essa a Andréia. Ambos estávamos relaxados, parecíamos um desses casais apaixonados, pelos quais tenho ojeriza. Tudo havia se dissipado... Minhas angústias, os complexos dele, nosso ressentimento, enfim... Tudo. Voltamos ao ponto de partida. Ali começava a nossa viagem.
Ele pediu licença e foi ao banheiro pela primeira vez desde que havíamos chegado no bistrô. Eu, evidentemente, já tinha ido várias vezes ao toilete, não para eliminar a vodka consumida, e sim para empoeirar a oleosidade da pele e aniquilar a opacidade dos lábios. Enquanto ele não voltava, fiquei pensando... Se eu fosse uma bailarina, talvez não pensasse em tanta besteira. Já cheguei até a freqüentar uma academia de ballet clássico, sugestão da minha estimada Dra Sheila. Logo no primeiro dia eu entrei em pânico, o Napoleão de toutou uivava a cada plié mal executado de algum discípulo. Eu, perdida naquele exército de tules e meias-calças, tive que seguir passo a passo o que Darwin me ensinou ainda no colégio, ou tentava me adaptar, ou morria ao som de alguma valsa de Chopin. Até que me saí bem, tanto que voltei na aula seguinte, desta vez, a caráter. Me senti tão ridícula que não consegui fazer nem uma meia-ponta. A partir daquele momento, vi que ballet clássico não era para mim, cai fora antes que a professora quisesse que eu saltasse ou coisa do tipo. Mas, enquanto eu me esforçava a esmo naquelas aulas exaustivas, percebi que não pensava em absolutamente nada que não fosse arrondi, rond de jambe, piqué, glissé, e tudo mais o que a professora anoréxica gritava em um francês impecável. Então... Se eu me tornasse uma bailarina profissional, que normalmente treina doze horas por dia, com certeza não pensaria em tanta asneira e aproveitaria bem mais o funcionamento do meu cérebro. Não faz sentido?! É uma pena não levar jeito pra coisa. Achou que vou tentar pólo-aquático.
- Demorou tanto, o que houve?! – Ele volta.
- Ah, Nã... Nada, não! Muita gente... Só, só isso. – Parece aturdido.
- Você está pálido. Está se sentindo bem? – Não está nada bem.
- Não! Nem consegui mijar. Podemos ir embora? – Começo a me preocupar.
- Calma, não dá pra segurar mais um pouco? Vamos para um lugar mais ventilado. – Me disseram que nessas horas o correto é manter a calma. Neste caso, fingir.
- Podemos ir embora? AGORA?! – Não dá mais para fingir. Estou nervosa.
- Nossa... Você está tão mal assim? Deixa só eu encontrar a Andréia, ainda não falamos com ela, lembra?! – Falo rapidamente e já me levantando.
- Vai você, eu fico esperando lá fora... – Já estou quase correndo.
- Ok... – Grito.
- Não demora! – Escuto de longe.
Saí em busca da Andréia. Estava apressada, estava preocupada. “O que acontecera?”; “Por que ele estava daquele jeito?”; “Será que foi a bebida?”; “E se ele passar mal, lá fora, sozinho”; “Preciso correr”; e corri, na verdade, como uma verdadeira maratonista, ultrapassei todos os obstáculos – que naquele caso eram as mesmas – e superei recordes – cumprimentei um trilhão de pessoas em um milésimo de segundo – até finalmente avistar a efusiva anfitriã, entre brindes e abraços.
- Oi... Licença... Andréia... – Interrompo um bate-papo bem animado.
- A-MI-GA! A festa não está maravilhosa?! – Ela está felicíssima.
- Sem dúvida! Gata, estou indo... – Preciso ser rápida.
- Como assim? Você acabou de chegar... – Diz agitada.
- Não... Já cheguei faz um tempo, é que eu tava escondidinha. – Digo sem-jeito.
- E não veio falar comigo? Que feio... – Brinca com as minhas bochechas.
- Desculpa, amiga... Tenho que ir, mesmo! Diogo está passando muito mal. – Tenho que cortar, ela não para de falar.
- O que aconteceu? Foi alguma coisa que ele comeu aqui? Me Deus! – Faz cara de pânico.
- Calma... Muita bebida, só isso! Sucesso! Beijão... – Minto e saio aos tropeços.
- Me liga... – Ouço, já distante.
Depois daquela correria toda, cheguei quase sem fôlego à porta do restaurante. Assim que me deparei com a hostess, lembrei-me da minha bolsa, tinha deixado na mesa. Voltei para buscá-la e percebi que o Diogo ainda continuava lá, com uma aparência melhor, mas parecendo ansioso e acompanhado por uma mulher.
- O que você ainda está fazendo aqui? – Faço um raio-x na tal mulher.
- Malu... – Parece surperso.
- Quem é essa mulher? – Diz a perua arrogante.
- É... Esse é meu nome, e quem é essa mulher? – Agora, é a minha vez de perguntar.
- Calma... – Ele está sob fogo cruzado.
- Me responde, Márcio? – Márcio? Eu ouvira bem? Aquela mulher disse Márcio?
- Márcio, Diogo? Acho que você me deve explicações... – Estava zonza.
- Malu, eu posso te explicar. – Por que o clichê? Não é melhor explicar direto?!
- Eu acho que eu perdi alguma coisa. Quem é você? – Desta vez, ela se dirige a mim.
- Malu é uma amiga do trabalho. – Ele responde por mim. Por que está mentindo?
- Desculpa, como eu sou mal educada. Seu nome é? – Pergunto educadamente o nome da vagabunda esnobe.
- Clara, me chamo Clara. – A vaca tem nome.
- Então, Clara, você pode me falar um pouco sobre Márcio? – Pego a minha bolsa.
- Malu, para com isso. – Ele range os dentes.
- Só se você me disser como é o Diogo? – A piranha está me desafiando.
- Clara! – Ele tenta impedir.
- Sabia que ele é casado? – Olho com sagacidade para a talzinha.
- Sim, comigo. – A VACA É A VACA?
- CHEGA! Alice, por favor! – Ele esconde o rosto com as mãos.
- Eu só voltei para pegar minha bolsa... – Não contive as lágrimas.
- Malu, me desculpe! – Tarde demais. Eu já não estava mais ali para ouvir. (...)"
Ele pediu licença e foi ao banheiro pela primeira vez desde que havíamos chegado no bistrô. Eu, evidentemente, já tinha ido várias vezes ao toilete, não para eliminar a vodka consumida, e sim para empoeirar a oleosidade da pele e aniquilar a opacidade dos lábios. Enquanto ele não voltava, fiquei pensando... Se eu fosse uma bailarina, talvez não pensasse em tanta besteira. Já cheguei até a freqüentar uma academia de ballet clássico, sugestão da minha estimada Dra Sheila. Logo no primeiro dia eu entrei em pânico, o Napoleão de toutou uivava a cada plié mal executado de algum discípulo. Eu, perdida naquele exército de tules e meias-calças, tive que seguir passo a passo o que Darwin me ensinou ainda no colégio, ou tentava me adaptar, ou morria ao som de alguma valsa de Chopin. Até que me saí bem, tanto que voltei na aula seguinte, desta vez, a caráter. Me senti tão ridícula que não consegui fazer nem uma meia-ponta. A partir daquele momento, vi que ballet clássico não era para mim, cai fora antes que a professora quisesse que eu saltasse ou coisa do tipo. Mas, enquanto eu me esforçava a esmo naquelas aulas exaustivas, percebi que não pensava em absolutamente nada que não fosse arrondi, rond de jambe, piqué, glissé, e tudo mais o que a professora anoréxica gritava em um francês impecável. Então... Se eu me tornasse uma bailarina profissional, que normalmente treina doze horas por dia, com certeza não pensaria em tanta asneira e aproveitaria bem mais o funcionamento do meu cérebro. Não faz sentido?! É uma pena não levar jeito pra coisa. Achou que vou tentar pólo-aquático.
- Demorou tanto, o que houve?! – Ele volta.
- Ah, Nã... Nada, não! Muita gente... Só, só isso. – Parece aturdido.
- Você está pálido. Está se sentindo bem? – Não está nada bem.
- Não! Nem consegui mijar. Podemos ir embora? – Começo a me preocupar.
- Calma, não dá pra segurar mais um pouco? Vamos para um lugar mais ventilado. – Me disseram que nessas horas o correto é manter a calma. Neste caso, fingir.
- Podemos ir embora? AGORA?! – Não dá mais para fingir. Estou nervosa.
- Nossa... Você está tão mal assim? Deixa só eu encontrar a Andréia, ainda não falamos com ela, lembra?! – Falo rapidamente e já me levantando.
- Vai você, eu fico esperando lá fora... – Já estou quase correndo.
- Ok... – Grito.
- Não demora! – Escuto de longe.
Saí em busca da Andréia. Estava apressada, estava preocupada. “O que acontecera?”; “Por que ele estava daquele jeito?”; “Será que foi a bebida?”; “E se ele passar mal, lá fora, sozinho”; “Preciso correr”; e corri, na verdade, como uma verdadeira maratonista, ultrapassei todos os obstáculos – que naquele caso eram as mesmas – e superei recordes – cumprimentei um trilhão de pessoas em um milésimo de segundo – até finalmente avistar a efusiva anfitriã, entre brindes e abraços.
- Oi... Licença... Andréia... – Interrompo um bate-papo bem animado.
- A-MI-GA! A festa não está maravilhosa?! – Ela está felicíssima.
- Sem dúvida! Gata, estou indo... – Preciso ser rápida.
- Como assim? Você acabou de chegar... – Diz agitada.
- Não... Já cheguei faz um tempo, é que eu tava escondidinha. – Digo sem-jeito.
- E não veio falar comigo? Que feio... – Brinca com as minhas bochechas.
- Desculpa, amiga... Tenho que ir, mesmo! Diogo está passando muito mal. – Tenho que cortar, ela não para de falar.
- O que aconteceu? Foi alguma coisa que ele comeu aqui? Me Deus! – Faz cara de pânico.
- Calma... Muita bebida, só isso! Sucesso! Beijão... – Minto e saio aos tropeços.
- Me liga... – Ouço, já distante.
Depois daquela correria toda, cheguei quase sem fôlego à porta do restaurante. Assim que me deparei com a hostess, lembrei-me da minha bolsa, tinha deixado na mesa. Voltei para buscá-la e percebi que o Diogo ainda continuava lá, com uma aparência melhor, mas parecendo ansioso e acompanhado por uma mulher.
- O que você ainda está fazendo aqui? – Faço um raio-x na tal mulher.
- Malu... – Parece surperso.
- Quem é essa mulher? – Diz a perua arrogante.
- É... Esse é meu nome, e quem é essa mulher? – Agora, é a minha vez de perguntar.
- Calma... – Ele está sob fogo cruzado.
- Me responde, Márcio? – Márcio? Eu ouvira bem? Aquela mulher disse Márcio?
- Márcio, Diogo? Acho que você me deve explicações... – Estava zonza.
- Malu, eu posso te explicar. – Por que o clichê? Não é melhor explicar direto?!
- Eu acho que eu perdi alguma coisa. Quem é você? – Desta vez, ela se dirige a mim.
- Malu é uma amiga do trabalho. – Ele responde por mim. Por que está mentindo?
- Desculpa, como eu sou mal educada. Seu nome é? – Pergunto educadamente o nome da vagabunda esnobe.
- Clara, me chamo Clara. – A vaca tem nome.
- Então, Clara, você pode me falar um pouco sobre Márcio? – Pego a minha bolsa.
- Malu, para com isso. – Ele range os dentes.
- Só se você me disser como é o Diogo? – A piranha está me desafiando.
- Clara! – Ele tenta impedir.
- Sabia que ele é casado? – Olho com sagacidade para a talzinha.
- Sim, comigo. – A VACA É A VACA?
- CHEGA! Alice, por favor! – Ele esconde o rosto com as mãos.
- Eu só voltei para pegar minha bolsa... – Não contive as lágrimas.
- Malu, me desculpe! – Tarde demais. Eu já não estava mais ali para ouvir. (...)"
Um comentário:
Quero a 10ª parte!!!!!!!
Bjsssss
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